Há muitos anos que setembro
significa para mim o regresso à escola, a azáfama de comprar o material
escolar, de adquirir os livros e, sobretudo, de aguardar por uma colocação.
Quando somos crianças é comum
fazerem-nos perguntas do género “O que queres ser quando fores grande?” ou
termos de redigir uma composição sobre a nossa profissão preferida no primeiro
ciclo. Eu quis ser professora…e também quis ser hospedeira de bordo…e tradutora…e,
bem ou mal, o destino colocou-me no caminho da educação.
Lembro-me bem de alguns dos meus
professores e professoras, aqueles que me marcaram, sobretudo pela positiva.
Homens e mulheres com o dom de ensinar, dedicados à profissão e aos seus
pupilos. A eles devo os belos exemplos que me deram e o muito que me ensinaram.
Fui professora durante 16 anos.
Desde o ano de estágio que guardo boas recordações e boas amizades com muitos ex-alunos
e ex-colegas de trabalho. Gosto de pensar que também eu fui capaz de transmitir
uma mensagem positiva a alguns deles e que, de uma ou outra maneira, consegui marcá-los
positivamente.
Não é fácil ser professor em
Portugal. Se não são as condições físicas das escolas, é a falta de recursos
materiais e humanos; se não são as colocações, são os alunos; se não é a
distância da família, são as políticas educativas… se não são umas, são outras
e, ultimamente, são todas ao mesmo tempo.
Há 16 anos não imaginei que o
panorama atual pudesse ser tão caótico e nem vale a pena listar aqui os ataques
que têm sido perpetrados aos professores, à escola e aos alunos por diferentes
cores governativas. Apesar de tudo, dar aulas era a minha vida, o meu
ganha-pão, o que me fazia sentir útil e socialmente realizada. As dores de
cabeça, o trabalho exagerado, a burocracia desmesurada, os desafios diários,
tudo isso me fazia sentir viva, ainda que cansada e cada vez mais revoltada.
Hoje penso e escrevo com a
serenidade que a distância me permite. Pela primeira vez em 16 anos passei o
verão sem me preocupar com o futuro próximo, sem ter noites mal dormidas por
causa da ansiedade, sem saber se ia poder passar o ano perto dos meus filhos ou
não, sem saber se ia ter trabalho ou ir para a fila do desemprego. Observo de
longe todo o frenesim e não sinto saudades. Saudades de estar com os alunos,
sim. Saudades de alguns colegas/amigos e do convívio e dos laços que se criam,
sim. Saudades de tudo o resto, não. Como posso ter saudades quando sei de
colegas que estão há anos sem uma colocação certa? Que há anos vivem longe da
família, com a casa às costas? Saudades de alunos malcriados e
desrespeitadores? Não! Saudades de um sistema podre, de compadrio e tachos?
Não! Saudades de políticas economicistas que fecham os olhos às verdadeiras
necessidades dos alunos e se focam apenas em estatísticas para europeu ver?
Não! Não, obrigada.
Sinto-me grata por poder
desfrutar dos meus filhos, por poder dar-lhes a atenção que merecem, por poder
gozar a sua infância sem me preocupar com o dinheiro ao fim do mês. Grata por
ter a família unida ainda que longe da terra natal. Grata por poder
proporcionar aos meus filhos experiências únicas que os vão ajudar a crescer e
a ser cidadãos de mentes tolerantes e horizontes alargados, cidadãos do mundo.
Olá, amiga
ResponderEliminarQualquer dia tenho outra amiga escritora...não sabes a riqueza que possuis por poderes acompanhar os teus filhos. Os professores são muito mal tratados em Portugal. Se não fossem os professores não teríamos progresso, médicos, juízes, engenheiros, arquitetos e todas as demais profissões. è preciso mudar mentalidades e politicas educativas. Temos que falar de coisas mais felizes. Quando é que podemos falar no Skipe e a que horas??? beijinhos e parabéns pelo teu talento literário.
Madrinha: obrigada pelos elogios! Quanto ao Skype, são sete horas de diferença horária por isso é sempre complicado. Temos que marcar um dia e uma hora pois assim é mais simples. Vê o teu horário e depois diz-me quando te dá mais jeito e eu tento encaixar-me. Bjinhos para ti e padrinho!
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