Porque viver uma aventura na
China implica viajar muito, este texto vai causar algumas dores de cotovelo.
Para os que conseguirem ultrapassar isso, leiam com carinho e faço
votos que um dia possam vir a fazer o mesmo, se for essa a vossa vontade.
Pessoas que volta e meia andam
por aí de férias,
digam lá
se tenho ou não razão. Passam-se anos a sonhar com o destino; passam-se meses a
pesquisar (o que ver, o que visitar, o que comer, onde comer, locais de interesse histórico,
tesourinhos escondidos, etc); uma semana antes prepara-se a partida, contam-se os dias,
as horas e minutos…para finalmente se chegar ao destino e os dias passarem a
voar!
Salvo raras exceções,
sempre fiz viagens de uma semana mas se há coisa que esta vida de
turista me tem ensinado é que uma semana fica sempre a saber a pouco. “A praia era
linda, era menina para ficar lá esparramada mais uns dias”…”não cheguei a visitar
aquele sítio,
deveria ter ficado mais uns dias”…”o hotel tem uns pequenos almoços dignos de
um rei, para a próxima marco mais tempo”… e lá marcámos! 20 dias! E ainda assim
soube a pouco! Banguecoque merecia mais saídas
noturnas mas com crianças pequenas torna-se uma aventura complicada. Phuket
merecia mais horas de leitura, descanso e massagens. Ho Chi Minh merecia mais
esplanadas, mais café e mais compras. Hanói merecia mais comida de rua e mais
passeios de mota. 20 dias depois acabaram-se mais umas férias em família, criámos mais umas quantas memórias bonitas, aprendemos
um pouco mais, saímos mais
pobres de carteira mas mais ricos como seres humanos.
20 dias depois estava mesmo a precisar
de outros 20 dias de férias… para descansar das férias. Contudo, 4 dias depois
já tinha novamente as malas aviadas para rumar ao Porto.
Regressar à nossa terra sabe sempre bem,
ainda para mais no verão. Sabe bem rever familiares e amigos, conviver,
degustar as nossas iguarias e respirar ar puro. Em Pequim está abafado, poluído e húmido. Um calor insuportável no
verão a contrastar com as temperaturas negativas e a neve dos meses de inverno.
Não há praias para entreter as crianças , as piscinas ao ar livre são caríssimas e à mercê dos agentes poluentes
e o rio Liangma não está bom para ir a banhos. O que fazer com duas crianças
durante 45 dias nestas condições? A pensar sobretudo no bem estar delas e dos
avós babados, gastam-se mais uns euros mas volta-se a ter a família separada. O marido a trabalhar e a
mulher e os filhos a gozar mais férias.
No meio disto tudo, alguns
acontecimentos bem importantes. Para começar, o Campeonato da Europa de
futebol. Confesso que não tinha grandes esperanças nem criei muitas
expectativas. Às custas da diferença horária de sete horas não vi nenhum jogo
da nossa seleção enquanto estive pela Ásia. Através das redes sociais li os
mais diversos comentários, nem todos abonatórios, mas a verdade é que os nossos
jogadores foram cumprindo a sua missão jogo a jogo, com maior ou menor
sofrimento. Chegada a Portugal já não tinha a desculpa da diferença horária mas
já estávamos nas meias e a supersticiosa em mim falou mais alto. Afinal de
contas, se não vi os outros jogos e eles ganharam, então deveria manter o
registo para que continuassem em maré de vitórias. Foi o que fiz e, olhem lá,
resultou! Ainda bem que não vi os jogos! Está bom de ver que foi às minhas
custas que ganhámos a taça!
Foi um mês carregadinho de emoções
fortes e grandes resultados desportivos - uns mais divulgados e festejados do
que outros – mas todos eles importantes para levar mais alto e mais longe o
nome do nosso país. Somos o
povo do “desenrascanço”, um povo de brandos costumes, de vincadas desigualdades
sociais, um povo com uma imensa história de emigração, de saudade e sofrimento
e muitas vezes vivemos a olhar para baixo, a tentar acompanhar a passada dos “grandes”
em vez de erguermos o olhar e caminharmos, no mínimo, ao lado deles. Eles, esses outros países que se dizem e fazem grandes, não
são melhores do que nós. Só quem vive e trabalha fora do país é que tem a verdadeira noção da
nossa grandeza, apesar de todas as nossas fraquezas.
Facto ainda mais importante e marcante
do que a conquista do Campeonato da Europa foi o primeiro aniversário da minha
estadia em Pequim. Um ano de China comemorado bem longe do país que nos acolheu em 2015, longe do
grande responsável por esta mudança. Convenhamos que foi um ano muito positivo:
21 voos, 10 cidades visitadas, conquistas escolares dos filhotes e
profissionais do maridão, entrevistas para a rádio…
A nível pessoal foi um ano de superação de obstáculos.
Voltei a escrever, adaptei-me a uma cultura diferente, regressei aos estudos e
logo para aprender uma língua tão
complexa, transformei uma casa num lar, li muito, fiz novas e boas amizades,
reguei as velhinhas amizades para que possam continuar fortes e saudáveis...acho
até que superei finalmente o meu medo de andar de avião. Com um ano assim, só
posso estar grata por tanta coisa boa que aconteceu. E saúde, muita saúde…muito
importante! Foram 366 dias em cheio!
Feliz por ter sido ator desta viagem de sonho.
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