Que a China e o Japão são dois
velhos rivais já todo o mundo sabe. Reza a história e os factos que os dois
países vizinhos têm um longo passado de disputas, confrontos militares,
invasões e crimes de guerra e, mais recentemente, franca competição económica.
Apesar da rivalidade entre as duas potências asiáticas, o Japão é um país
fortemente influenciado pela China, nomeadamente ao nível da escrita, da
cultura, da arquitetura e da religião. Só quem conhece bem os dois países é que
pode verdadeiramente compará-los mas como acabei de chegar de férias de um e
vivo há alguns meses noutro, vou tentar falar-vos das diferenças que encontrei.
Assim, para começar, no Japão o
acesso à Internet é feito de forma normal, sem quaisquer restrições, sem
recurso a VPN (rede de comunicação privada). Por outro lado, se pensarmos que o
acesso à internet leva ao acesso aos jogos online e que, por sua vez, estes
podem levar a verdadeiras dependências, então é fácil de entender o vício dos
japoneses pelo jogo. O “pachinko” é um dos exemplos mas existem outros. Por seu
lado, na chamada “Mainland China” o acesso a determinados sites está vedado aos
que não usam VPN mas, acreditando nas últimas notícias, esta situação pode
deixar de existir em breve. Aguardemos… com esperança.
Os japoneses gostam do seu jogo
de pachinko, do seu sushi e do seu ramen (uma espécie de sopa); os chineses
gostam de ver novelas no telemóvel, de “dumplings” e de chá. Pessoalmente,
prefiro o melhor dos dois mundos: ramen para abrir as hostilidades, ”dumplings”
para degustar e uma cervejinha para acompanhar (deixemos o chá para os seus
aficionados, afinal de contas sou portuguesa!). Um dos nossos almoços foi sushi.
Estava bom, vá, tenho de concordar. Ou isso ou eu estava cheia de fome. Não sou
grande fã de sushi. Entendo a moda que se gerou nos últimos anos à volta desta
iguaria japonesa mas aviso já que os restaurantes japoneses estariam às moscas
se todos partilhassem da minha opinião. Não saio de casa para ir comer sushi,
muito menos aos preços que se praticam por aí. Abri uma exceção porque estava
na terra do dito cujo e “parecia mal” não lhe dar uma segunda oportunidade. Lá
comi, gostei, mas ainda assim não me convenceu. Os kebabs que vi uns metros à
frente, depois de ter comido sushi, tinham-me sabido bem melhor, garanto-vos. E
porque o objetivo deste texto é comparar duas culturas, no campo culinário a
China bate o Japão aos pontos. Viva o Pato à Pequim, os “dumplings”, o “fried
rice”, os “noodles” e afins! Vivam os produtos fora de prazo, a água da torneira
que não se pode beber, o peixe e o marisco manhosos, as carnes congeladas,
descongeladas e “recongeladas”…não…isso não, claro que não! Definitivamente
nesta área o Japão sai vencedor. O peixe é fresquíssimo, nas prateleiras dos
supermercados os produtos estão dentro do prazo de validade e a água é
totalmente potável. Os japoneses devem ter uma autoridade tipo ASAE, coisa que
na China parece não existir. É como estar em Portugal e ir ao supermercado
fazer compras. O problema é que no Japão temos que desembolsar o triplo pela
maior parte dos produtos. Embora já tivessem comentado comigo que o custo de
vida lá é muito elevado, nada me preparou para ver um cacho de uvas a 14 euros
ou cada maçã a 2. No final destas férias voltei para Pequim a achar que afinal a
vida aqui não era assim tão cara.
Apesar do elevado custo de vida,
no Japão vive-se bem, de forma civilizada, com regras, com pontualidade, respeito
e honestidade. Ora vejamos. À chegada ao aeroporto deparei-me com um serviço
rápido e eficiente. O facto de termos aterrado no segundo aeroporto de Tóquio
(Haneda) pode ter ajudado. O tempo desde a saída do avião até apanhar o táxi
não demorou mais de 30m. Ao entrar no táxi parece que entramos noutro mundo.
Taxista de fato, luvas brancas, a falar inglês razoavelmente e a ligar o
taxímetro sem que seja necessário “recordar-lho”. Táxi, modelo antigo de marca
desconhecida, mas espaçoso, limpo, cheiroso, decorado com rendas brancas no
banco traseiro e, muito importante, com cintos de segurança. Na China é “quase”
assim. Os taxistas andam vestidos de forma normal, é uma sorte não fumarem
dentro do táxi, “esquecem-se” frequentemente de ligar os taxímetros, não falam
nadinha de inglês, os táxis nem sempre têm um aspeto limpo e, embora as rendas
brancas também estejam presentes, cintos no banco de trás é que nem vê-los.
Depois há toda a questão das regras de trânsito. No Japão existem regras que
são cumpridas. Na China também existem, só que são simplesmente ignoradas pela
maioria dos condutores. Depois admiram-se que aqui existam engarrafamentos e lá
não! Já para não falar nas passadeiras. Enquanto na China são “adornos”
urbanos, pintadas no chão porque deve ter sobrado tinta de um qualquer local de
construção, no Japão elas estão lá para ajudar os peões e são escrupulosamente
respeitadas por todos!
Já que estamos a falar de meios
de transportes, convém referir a atenção que os japoneses dão aos acessos a
deficientes/carrinhos de bebé nos seus transportes públicos, nomeadamente metro
e comboio (os que usei com mais frequência). Um deficiente em cadeira de rodas
ou uma mãe com um carrinho podem usar estes transportes sem quaisquer
limitações pois todas as estações estão apetrechadas com elevadores e rampas
que facilitam a circulação destes utentes. Há, inclusive, funcionários que
auxiliam estes utentes a entrar e sair das carruagens. Uma diferença abismal,
abismal, se formos a observar o que se passa na rede de metro da capital
chinesa. Como mãe que durante meses teve que recorrer a um carrinho de bebé
para transportar a filha, posso dizer-vos que evitei sempre usar o metro em
Pequim quando estava sozinha. Lanços de escadas “normais” e escadas rolantes de
20 e mais degraus são impossíveis de ultrapassar quando se tem um carrinho ou
uma cadeira de rodas. Nenhum deficiente, mãe ou pai deveria ter que passar por
estas limitações onde quer que seja, muito menos numa cidade como Pequim.
Ainda no campo dos transportes,
uma última e rápida palavra para as bicicletas. Aqui a China está muito à
frente do seu vizinho. Por cá a bicicleta, as scooters e as motorizadas
elétricas são rainhas. Chinês que se preze tem uma bicicleta ou uma dessas
motos. São práticas, de fácil e barata manutenção e uma boa alternativa ao
trânsito caótico das grandes cidades. Nas ruas de Pequim podem encontrar-se
muitos modelos diferentes, usados por particulares ou empresas, para
distribuição de correio, água, lixo, encomendas de lojas online, alimentação, entre
outros. Já em Tóquio o número de
velocípedes é diminuto se compararmos com Pequim mas ainda assim encontrei uns
modelos bem catitas para quem tem dois filhos pequenos e os quer transportar sobre
rodas para todo o lado.
E que dizer da limpeza e da
organização? Por um lado o Japão com ruas limpas, tudo ordenado e planeado. Por
outro lado a China onde reina a desarrumação e onde é muito fácil encontrar
lixo espalhado nas ruas. E as casas de banho? Meu Deus, as casas de banho! Invenção
japonesa ou não, por lá qualquer casa de banho tem a sua sanita toda aparelhada
de botões para lavar as partes íntimas dos seus utilizadores, com esguichos
diferentes consoante sejam homens ou mulheres, com regulação de temperatura e
algumas até com música ambiente. Definitivamente muito à frente os nossos
vizinhos. Por cá é muito raro encontrarem-se estas sanitas, principalmente em
espaços públicos. Nem as “nossas” sanitas são fáceis de encontrar. Qualquer
museu ou local turístico tem as sanitas incorporadas no chão, para fazer “à
caçador”, e apenas uma ou duas das “normais”. Já para não falar dos sanitários
públicos chineses, verdadeiros ataques mortíferos ao olfato de qualquer um. Prometo
que em breve me debruçarei com maior atenção a esta questão.
Em jeito de conclusão, basta-me
deixar uma última consideração. E que tal passar 8 dias no Japão sem sentir
qualquer tremor de terra? Isso sim, um verdadeiro feito.
Zona de fumadores junto à estação de Shibuya |
No interior de uma carruagem do metro |
Sushi! |
Mapa da Tokyo Station |
Ramen |
Uvas a 14 euros?!?!?!?! |
As famosas sanitas |
bicicletas adaptadas (foto retirada da internet) |
Diferentes.
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