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quarta-feira, 22 de março de 2017

(Des)aparecida!

Muito podia eu dizer sobre o facto de estar há dois meses sem publicar nenhum texto. Razões há muitas, sendo que a falta de tempo e a preguiça são as principais. Entre final de janeiro e o dia de hoje muito se passou (férias nas Filipinas, exame de Mandarim, descobertas interessantes, planos para um futuro a médio prazo) mas há uma coisa sobre a qual eu tenho que falar em primeiro lugar: a mala. Eu contei-vos que uma das nossas malas desapareceu na viagem entre o Porto e Pequim no início deste ano? Como qualquer emigrante português que se preze, uma ida de férias à terra natal significa viajar de regresso ao país de trabalho carregado de bacalhau, enchidos, queijo, vinho e azeite. Desta vez não foi exceção, o problema é que a mala nunca chegou a Pequim…ou melhor, chegou, dois meses depois…quando todos os enchidos, queijo e bacalhau estavam a modos que podres, a cheirar tenebrosamente mal e a criar larvas. Desculpem se coloco as coisas desta forma tão crua, mas foi mesmo assim que a mala chegou ao cabo de dois meses às minhas mãos. A comida podre acabou misturada com todas as peças de roupa e obrigou a máquina de lavar a trabalho extra durante uma semana. Para além da roupa, salvou-se o Mokambo (de sabor mais agradável que o Nescafé que por aqui se vende), o Pensal (os chineses desconhecem a cevada), algumas especiarias, os frascos de picante, as sementes de couve-galega que havemos de plantar (assim que eu comprar terra), três míseras latas de salsichas de aves e uma garrafa de azeite. Sim, trazíamos muita coisa boa naquela mala. 32 kg de produtos portugueses para amenizar as saudades do nosso país e, sobretudo, da nossa gastronomia. Descobrimos que a mala passou estes dois meses enfiada algures numa sala do aeroporto de Pequim e descobri também, ao abri-la, que as latas de atum e os brinquedos da Catarina foram retirados da mala. Sim, e quando digo “retirados” o que quero realmente dizer é “roubados”.

As aulas de Mandarim continuam a bom ritmo e no meio de gargalhadas e muita boa disposição. O nível 2 foi bom e o 3 está a ser excelente. No domingo passado fiz o HSK2 – um exame que qualquer aluno que estude mandarim pode fazer desde que pague 250 RMB de inscrição. Se passei? Não sei mas julgo que sim. As notas só serão divulgadas daqui a umas semanas. Foi uma manhã de domingo diferente mas muito bem passada. Por um lado sei que estive serena e à altura do desafio. Uma vitória mental pois a língua é bem complicada e estes pequenos desafios põe-me à prova. Por outro o convívio com as minhas 朋友 (Péngyǒu - amigas). Juntas fazemos uma equipa super divertida, sem medo dos desafios.

E por falar em desafios…semana passada lá foi parte da equipa de mandarim às compras. Em consequência de algumas medidas governamentais para reduzir os níveis de poluição na cidade, partes da cidade estão a ser demolidas e no seu lugar irão nascer zonas verdes. Estas medidas, embora positivas, estão a ter impacto negativo em muitos negócios familiares e, consequentemente, as famílias vêm-se obrigadas a fechar as suas lojas. Foi o caso da Tracy e do seu negócio de antiguidades. Recebeu uma carta para fechar portas até final de abril e a palavra espalhou-se entre a comunidade internacional residente em Pequim, sempre desejosa de uma boa pechincha e, no meu caso, desejosa de comprar artigos tipicamente chineses. O armazém onde a Tracy guarda os seus produtos fica à saída do quarto anel, a cerca de 35m de carro do local onde moro. Para lá chegar tivemos de pedir ajuda ao GPS que, mesmo assim, me fez andar às voltas do quarteirão por duas vezes. Não há placas que ajudem, não há letreiros, apenas caracteres chineses e o nome “Tracy’s Antiques” pintado na parede de cimento do armazém. Também não há nada que nos prepare para o que vamos encontrar mesmo ao lado do armazém: Entulho, pobreza, vidas difíceis e amarguradas de quem vive com muito pouco. Lá dentro, apesar do frio cortante, o ambiente é acolhedor e simpático e a nossa anfitriã desenrasca-se bem com o inglês. Os artigos são lindíssimos e apetece trazer tudo para casa mas, apesar dos preços convidativos, lá me contenho e trago apenas algumas peças que me deixaram muito feliz. Saímos de lá mais leves na carteira mas bem mais ricas de cultura e a minha casa parece-se cada vez mais com um “doce lar”.

E hoje resolvi dar início a uma nova “rubrica” neste meu blog intitulada “palavra do mês”. A palavra escolhida para estes dois meses que passaram é (páiduì) ou, na versão portuguesa, “fazer fila”. Escolhi esta porque é aquilo que neste momento me faz mais confusão. Este país simplesmente não entende o conceito de fazer fila, esperar vez e ter respeito pelo próximo. Exemplos não faltam desde a fila para o banco, a fila para pesar os legumes no supermercado, a fila para pagar as compras, a fila para apanhar o autocarro, a fila para entrar no restaurante, a fila de trânsito…é a verdadeira selva…e o mais impressionante é que, chamados à atenção, ainda se acham com mais razão e não entendem por que nos sentimos tão indignados.

Outro motivo de profunda indignação é estar quase no final de março, tecnicamente já ser primavera e não se ver sinais dela em lado nenhum nesta cidade. Frio e altos níveis de poluição a acompanhar: a receita perfeita para uns dias depressivos.

Tristezas à parte, em breve terei visitas e estou muito feliz por isso. Parece que 2017 é o ano que vai dar a conhecer Pequim a alguns dos meus amigos e eu tudo farei para ser uma boa anfitriã. O “hotel” ainda tem datas livres por isso é ver na agenda que daqui a pouco mais de um ano a aventura na China termina!

A lixeira à entrada do armazém das antiguidades
 
Interior do armazém da Tracy

Estatueta

Baú
Pintura para emoldurar e molde de "mooncakes"

Pratos decorativos
Tambor decorativo

Exame HSK 2

Documento de acesso ao exame